segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

As 50 sombras dos relacionamentos.

- Manel, temos que ir ver o filme “As 50 sombras de Grey”.
- Nem li o livro, mas sim, vamos, porque o filme é muito falado. No entanto a história e todo o simbolismo associado arrepiam-me.
- Porque Manel?
- Começa logo pelo machismo de dizer que as mulheres sonham com alguém que financeiramente lhes dê tudo. Mentira, ambos, homens e mulheres associam o tamanho da casa, da conta bancária e do carro com a sua felicidade. Ambos têm a perceção que o dinheiro vai preencher tudo o que lhe falta na vida, a história apenas tira partido disso. Na prática uma pobre pessoa insuportável  passa a ser um insuportável rico.
- Maria, há ainda outra coisa que me irrita no filme e é a forma como algumas mulheres o defendem.
- Sim Manel existe aí algum fanatismo…
- Na proteção exagerada da Anastácia, do Grey, da Bela Adormecida e do Príncipe Encantado vejo a defesa delas próprias e do seu direito de fantasiar e sonhar. E penso! O que estará por trás nas suas vidas reais que torna indispensável os devaneios fantásticos com a narrativa e as personagens? Não me espanta nada a notícia da estatística que conclui que as mulheres que gostam do livro são as que fazem menos sexo.
- O pior não é isso Manel, pelo que sei, a história, não torna claro as más escolhas que se fazem num relacionamento e pinta de dourado uma relação abusadora e doentia. Quem defende a relação deles ainda afirma - “Ele ama-a faz tudo por ela” . Quando chegarem à parte do viveram felizes para sempre a Anastácia vai aguentar 5, 10, 20 anos de monotonia com uma pessoa insanamente prestável? ([ Manel e Maria, as Expectativas]). Os nossos desejos não devem ser todos atendidos, muito menos os mais obscuros. Ou então tornamo-nos criaturas mimadas, da pior espécie.
- Maria, quanto ao tipo de sexo retratado, em certos meios vai incentivar o desrespeito e a violência. Pensa nos comentários de um grupo de grunhos no café a beber umas bejecas - “As gajas gostam do filme porque são umas todas umas...Um gajo a querer fodê-las com jeitinho e elas querem é um bruto que lhe dê nos cornos”. Pensa nos adolescentes que modelo para as suas relações.
- Pelo lado feminino, as fans da história, usam-na para aferir o quanto os seus parceiros as desejam, exigindo sexo forte e fantasioso como no filme. Sexo normal e carinho não bastam. São necessários jogos sádicos para magoar, (estimular?) a alma e o corpo para se sentirem vivas, fugirem da mediania, da monotonia e letargia do quotidiano da nossa vida cheio de ações mecanizadas.
-Manel, essas mulheres querem romance, aventura, luxo, dinheiro, atenção, suspense, sexo, dor e prazer. Querem sentir-se vivas. Por fim querem um homem complicado para salvar, sabe-se lá de quê! O que querem, de facto, única e exclusivamente, é sair da sua vida monótona e com falta de sexo, mas sem o assumir, inventam esquemas e complicações para fugir à realidade.
- Um homem complicado, para salvares  já aqui tens! Como não sou milionário não tenho um ar misterioso sou apenas calado! Também não sou, hipoteticamente, tão bonito como o Gray. No entanto existo e estou aqui, ao vivo e a cores, totalmente disponível. 



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Maria e o assédio

- Maria hoje fui à esplanada do Bar Mar Azul. Estive calmamente a ver o fim  do dia e a beber uma imperial.
- Manel estavas sozinho?
- Sim.
- Também gostava de fazer isso mas não posso.
- Não podes? Claro que podes!
- Eu lá, sozinha, nem pensar! A fauna masculina ia começar a assediar-me.
- A sério Maria?
- Vou contar-te o que ia acontecer. Das duas, uma; se é um homem mais decidido chega, vê-me e tenta logo meter conversa e, eventualmente, sentar-se na minha mesa. Aí posso rejeitá-lo logo - “Eu só vim porque preciso de estar sozinha”. Se ele insistir, volto a repetir. Esses normalmente não chateiam mais.
- Esse homem é o típico sedutor, conquistador com todas as mulheres.
- Isso não sei. No outro caso, chega um indivíduo senta-se numa mesa perto e começa a olhar para o meu corpo mais ou menos discretamente. Vou sentir-me incomodada e vou fechar-me, concentrar-me no meu livro, mas nem isso vou conseguir fazer decentemente, sem vontade para levantar os olhos para o mar e apreciar o final de tarde.
- Mas Manel ainda vou acrescentar mais. Ele, estúpido, vai pensar que eu não sei que estou a ser olhada, e eu vou fingir que não estou. Entretanto eu vou pensando que ele é um fraco, carente, pois se não o fosse já me tinha abordado e eu já o tinha rejeitado ou aproveitado para um dedo de conversa. Ele vai continuar ali numa espécie de perseguição silenciosa e quanto mais o tempo passar maior vai ser o meu repúdio.
- E penso. A tua atitude mostra falta de mulher, fraqueza, parece um cobarde, ali sentado meio escondido como se me estivesse a dizer. “Tu és boa demais para mim, eu não sou suficiente homem para ti!“. Ele não é um desafio para uma mulher, nós gostamos de homens fortes, seguros e independentes. Apetece dizer - “Nunca vais ter uma mulher como eu”.
- Sorte a tua de seres muito bonita.
- Eu só queria ler o meu livro, tranquila e apreciar o fim do dia.


sábado, 14 de fevereiro de 2015

O sexo e o preservativo!

- Maria, não gosto de usar preservativos!
- Comigo não precisas. Não sentes o mesmo prazer?
- Não é isso.
- Então?
- Quando tenho de tirar o preservativo é sempre o fim do sexo!
- Só se tu quiseres, Manel. Bons amantes terminam com vários espalhados em redor.

- Ao utilizarmos o preservativo, alteramos o modo como fazemos sexo. Com ele primeiro tenho de ter uma ereção depois coloco, depois penetro, depois tenho de ficar até ao fim, depois tiro e deito fora, ai vamos limpar-nos. Sem preservativo paramos, iniciamos, conversamos, beijamos, chupamos, numa dinâmica muito diferente. Com preservativo não podemos fazer isto, não posso encostar-me a ti com ele pendurado, quase a cair. A fluidez do momento do sexo e a relação dos nossos corpos é completamente diferente.
- Sim isso é verdade mas DST e em especial a sida obrigam a usá-lo sempre.
- É verdade e acrescento, Maria. A sida é a principal culpada por estas alterações do nosso comportamento sexual, segmentando o sexo em início, meio e fim.  Numa boa sessão de sexo é sempre preciso utilizar vários preservativos com as paragens múltiplas do tira e põe. Isto impõe uma divisão de sexo em vários momentos. Cada vez que o tiro é sempre uma quebra do momento.
- Manel, é o início do momento seguinte…

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Maria muito sexy...


- Maria, não gosto que uses essa roupa!
- Porquê?
- É um bocado provocante, mostra muito.

Quase todos os homens já estiveram nesta situação. Sentem logo, assim que a olham, um aperto no estômago e um mal-estar que alastra a partir dele.
E agora qual o passo seguinte da Maria?  Duas respostas possíveis a apontar para caminhos diferentes.

- Tens razão Manel.
(Dito depois de ser ver ao espelho.)

E o incidente acabaria aqui. Outra resposta da Maria e outro caminho poderia ser:

- Achas isso. É impressão tua. Manel!
- Não, Maria, eu tenho olhos na cara e sei o que vejo.
- Estás com ciúmes.
- Claro que não estou.
- Deixa lá, não tenhas ciúmes é de ti que eu gosto e de qualquer modo o que é bom é para se ver! Certo?

A partir daqui qualquer resposta do homem, que não seja - sim querida tens razão, vai levar a uma escalada de violência emocional da mulher sobre o homem e as próximas deixas da mulher poderiam ser:

- Estás sempre a ver maldade em tudo.
- Estás a ser machista. Essa tua cabeça é mesmo muito porca.
- Não confias em mim. Parece que não me conheces, não tens o mínimo para me apontar

O jogo já se voltou contra o Manel, a Maria fez-se desentendida e o Manuel já se sente culpado.
Manel, apaixonado pela Maria, vai ficar calado, fechado nas profundezas dos seus pensamentos procurando uma frase coerente para rebater o que a Maria lhe atirou à cara como se fosse uma grande verdade inexpugnável!
O Manel não percebeu, muito antes de ele ver as roupas da Maria já esta as tinha escolhido para a ocasião. Nesse dia apetecia-lhe ser olhada, sentir-se viva, desejada para aumentar a sua autoestima.
As partes feias desta história são muitas. Maria não respeita emocionalmente o Manel, porque sabe que ele é romanticamente apaixonado por ela, cede nas discussões e perde sempre.
O Manel perdeu a capacidade de a seduzir, de fazer Maria brilhar e sorrir como nos primeiros encontros. A Maria já não é mulher da vida do Manel…

Maria gosta da cobiça de outros homens, precisa dela para se sentir bem e inflar o ego. O Manel  já não é o homem da vida da Maria…