quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Maria e o assédio

- Maria hoje fui à esplanada do Bar Mar Azul. Estive calmamente a ver o fim  do dia e a beber uma imperial.
- Manel estavas sozinho?
- Sim.
- Também gostava de fazer isso mas não posso.
- Não podes? Claro que podes!
- Eu lá, sozinha, nem pensar! A fauna masculina ia começar a assediar-me.
- A sério Maria?
- Vou contar-te o que ia acontecer. Das duas, uma; se é um homem mais decidido chega, vê-me e tenta logo meter conversa e, eventualmente, sentar-se na minha mesa. Aí posso rejeitá-lo logo - “Eu só vim porque preciso de estar sozinha”. Se ele insistir, volto a repetir. Esses normalmente não chateiam mais.
- Esse homem é o típico sedutor, conquistador com todas as mulheres.
- Isso não sei. No outro caso, chega um indivíduo senta-se numa mesa perto e começa a olhar para o meu corpo mais ou menos discretamente. Vou sentir-me incomodada e vou fechar-me, concentrar-me no meu livro, mas nem isso vou conseguir fazer decentemente, sem vontade para levantar os olhos para o mar e apreciar o final de tarde.
- Mas Manel ainda vou acrescentar mais. Ele, estúpido, vai pensar que eu não sei que estou a ser olhada, e eu vou fingir que não estou. Entretanto eu vou pensando que ele é um fraco, carente, pois se não o fosse já me tinha abordado e eu já o tinha rejeitado ou aproveitado para um dedo de conversa. Ele vai continuar ali numa espécie de perseguição silenciosa e quanto mais o tempo passar maior vai ser o meu repúdio.
- E penso. A tua atitude mostra falta de mulher, fraqueza, parece um cobarde, ali sentado meio escondido como se me estivesse a dizer. “Tu és boa demais para mim, eu não sou suficiente homem para ti!“. Ele não é um desafio para uma mulher, nós gostamos de homens fortes, seguros e independentes. Apetece dizer - “Nunca vais ter uma mulher como eu”.
- Sorte a tua de seres muito bonita.
- Eu só queria ler o meu livro, tranquila e apreciar o fim do dia.


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