domingo, 26 de abril de 2015

Maria e a lingerie bege.

- Manel não percebo porque embirras com bege!
- Não gosto lá muito de roupa interior bege.
- Mas é prática, neutra, da cor da pele, não faz contraste por baixo da roupa.
- Lá isso é verdade, Maria.
- Olha, isso do bege ser horroroso é um mito, as pessoas não pensam e vão atrás.
- Achas?
- Sim! O que tu não gostas é de roupa interior de mau gosto, tipo cuecas de gola alta. De qualquer cor, de resto!
- Uiiii...Isso, então, dá vómitos, abomino.
- O bege é uma cor como as outras. Logo vou-te provar isso, Manel.
- E como?
- Vou chegar ao pé de ti, com roupa interior bege e tu vais delirar.
- Boa. E como vai ser?
- Com umas cuecas pequenas, tipo asa delta, lindas, semitransparentes, camisa justa com os seios a espreitar nos botões desapertados e um soutien bege transparente a olhar para ti.
- Pronto, já estou a passar-me...
- Ainda não acabei Saia muito curta, com espaço para pores as mãos, com meias de liga beges.
- A essa altura já vou estar completamente baralhado com as tuas curvas, que nem vou saber a cor da tua lingerie. Não há cuecas beges, ou outra pseudo-imperfeição, estrias, celulite, tudo fica para trás com uma boa performance…
- Agrada-me também!
- Ainda não te vi, só te imaginei e já destruíste o meu obscuro mito da roupa bege!


sábado, 18 de abril de 2015

Como perder uma discussão.



- Manel temos que ir ver esse filme? Li que esse filme é machista e estupido! Aposto que nos íamos divertir mais com outro filme.
— Hmmmm… o que sugeres?
— Ah, eu queria ver “Um mistério de mulher”, tem aquela loira que tu gostas!
— Porra! Comédia romântica? Vais-me fazer ver isso?
— Ai...! Não precisas de ser bruto! Não precisas de ver nada que não queiras. Nem de gastar o teu precioso tempo no cinema comigo.
 
Maria, como não consegue dominar o Manel pela força, quando discute com ele utiliza a sua superior capacidade de manipulação emocional. Uma das suas técnicas preferidas é responder atacando, por qualquer outra coisa. A reação imediata do homem é desculpar-se, defender-se ou rebater o argumento. Isso desvia a sua atenção do seu objetivo inicial. Vendo o homem enfraquecido, os ataques e as provocações da Maria nunca mais vão terminar. Por exemplo:

- Eu não gosto de te ver com essa blusa, ela mostra muito...
- Ah, achas é que eu estou gorda?      
- Não, eu nunca disse isso e não acho que estejas gorda.

Manel já está a justificar a sua posição para responder ao ataque, Manel já está concentrado em desculpar-se em vez de ignorar a resposta da Maria.

- Ah, então eu sou mentirosa também, é?  
- Não, não estás  a mentir. Eu só quero dizer que não gosto que uses essa blusa.

Tenta desesperadamente justificar-se para responder às arremetidas de Maria numa discussão sem fim.

- Por que estás a gritar comigo?
- Eu não estou a gritar contigo.
- Estás sim. Por que és sempre tão bruto?

Esta técnica de intimidação emocional feminina joga com as inseguranças masculinas e desvia a direção da conversa. Ela sabe que ele vai perder-se em justificações e quando perceber que a Maria não se vai calar, ele vai render-se, vencido pelo cansaço.


sexta-feira, 10 de abril de 2015

Mulheres sexy, filhos e filhas



- Já reparaste Manel que em revistas, jornais, filmes e nos media em geral, as mulheres são sempre sexys e retratadas como objetos sexuais?
- Sim.
- Até em programas como “Big Brother”, “Casa dos segredos” ou em artigos aparentemente inócuos de revistas para mulheres e homens.
- Maria, além disso, também é passada a imagem que as mulheres além de sexys, têm total disponibilidade e fazem muito sexo.
- Até parece que nós mulheres, não fazemos mais nada.
- E já pensaste no efeito disso no nosso filho?
- Não. Qual?
- O que pode acontecer com um rapaz a quem é passada através dos meios de comunicação a ideia de que as mulheres são sexualizadas,  são objetos, estão sempre a procura de sexo e totalmente disponíveis?
- Manel, nunca tinha pensado nisso, o meu ponto de vista de feminista leva-me a só pensar nas mulheres.
- Quando ele crescer e sair para o mundo o que vai encontrar?
- Mulheres normais.
- Sim! E ele, aí, desilude-se! Vai tentar encontrar as mulheres dos media, e não vai encontrar. Descobre que elas não são assim, não são vadias, não vão dormir com ele. Pode tentar, mas não vai fazer acontecer todas as coisas que lhe foram prometidas em anúncios, filmes, revistas e porno.
- Certíssimo Manel! E?
- Ele vai pensar que elas fazem com outros tudo o que lhe foi prometido nos media. Com ele não porquê? Ele acha que foi enganado, ela é tão sexy, veste-se de forma provocadora, parece e age como uma vadia promiscua,  mas ela não o é.
- Maria. Se ele não tiver as competências certas para lidar com isso. Talvez comece a odiar as mulheres. Talvez fique deprimido? Talvez misógino? Talvez agressor sexual em busca da recompensa supostamente prometida?
- Estás a dizer-me que o problema cultural pode transforma-se em neurose nos homens fracos ou emasculados e sem rumo, cuja única saída é masturbação e violência?
- Sim e ai começo a preocupar-me com a minha filha.
- Como?
- Olha as mulheres sempre se maquilharam, pentearam e arranjaram desde os tempos mais remotos. Os media não alteraram drasticamente isso. Não conheço nenhuma mulher a quem tenha sido dada a escolha entre ser sexy ou não, que tenha escolhido não ser sexy.
- Podes crer, Manel
- Não é por vestir de um modo sexy que a minha filha deixa de ter como objetivo ser médica, engenheira. Ela sabe que precisa de dinheiro para gastar na indústria da moda e beleza. Eu quero a minha filha a controlar a sua sexualidade e não a ser controlada por um individuo qualquer. Eu quero que ela seja inteligente e sexy. Mas mais importante, quero que ela seja ela. O problema não é a minha filha tornar-se uma vadia. O problema é ela  poder ser espancada por um maluco que quer que ela seja vadia. Ou não quer que ela o seja. Ou que o seja, mas só quando ele quiser...



sexta-feira, 3 de abril de 2015

22 antibióticos



Manel e Maria a beber um café matinal, algures numa mesa de café…

“- Bom dia dona Palmira! Vai um cafezinho?
- Obrigado, mas não posso dona. Genoveva. O médico não deixa, tenho a tensão alta.
- Dona Palmira, eu também tenho passado mal. Vim agora do médico!
- Eu, fui ontem ao médico! Andava há muitas noites a dormir mal!
- Nem falo nisso já, eu, há meses que não prego olho, sempre cheia de dores. Maldito reumático!
- Isso não é nada dona Genoveva, eu tenho uma fratura nas costelas, o médico já me disse que que não se cura enquanto  não parar de tossir, mas os meus ataques de tosse nunca mais param!
- Aiii.., eu estou aqui que nem posso! Mal consigo mexer-me com dores, tenho uma fratura, de um lado ao outro, na bacia que nunca mais se cura, o médico já não sabe o que fazer!
- Dona Genoveva, eu ando a tomar 22 antibióticos!…”

- Manel ouviste aquele diálogo?
- Não pude deixar de ouvir. No crescendo de doenças, uma delas vai acabar por dizer que já está morta!
- Manel, normalmente temos inveja e queremos ser os melhores em qualidades, conquistas e capacidades e fazemos comparações do tipo:
  “O namorado dela a trata-a tão bem… que querido… e eu… nada.”
   “A casa dela com vista para o rio… e eu a viver numa apartamento de uma assoalhada a cheirar a fritos…”
   “Ela faz sempre viagens maravilhosas, e eu… daqui não saio…”
 Agora ter inveja e precisar da admiração dos outros pela quantidade e qualidade de doenças é espetacular! Serve para mostrar o quê? Eu estou aqui e tenho mais doenças logo sou mais forte?  Sofro mais que tu e vou para a céu?
- Maria, acho que estão a fazer um concurso de vitimização, a derrotada  vai ter que se compadecer e ter pena da vencedora!