- Mas tu não me disseste nada!
- Não percebeste nada, tu
devias-me perceber sempre! Estou contigo porquê? Se tu não me percebes
quem me vai perceber? Ainda te preciso de dizer tudo depois destes anos
todos? Não me conheces já Manel?
Podíamos substituir o problema da ida ao teatro por outro qualquer e o
diálogo iria manter-se, ou seja é a Maria com as suas altas expectativas a
impor o seu egocentrismo sobre o Manel, ou, em alternativa, podíamos trocar as
falas da Maria com as do Manel que iria dar ao mesmo.
O problema não são as expectativas irreais. O problema é não sabermos
lidar com elas quando surgem. Precisamos de tomar consciência dos nossos
desejos mais irrealistas para pudermos lidar com eles.
Para nos ajudar o Manel e Maria, depois da discussão, trocaram
algumas impressões no sentido de tentarem compreender a irracionalidade de
alguns dos seus desejos e expectativas insanas. É de notar que mudando o Manel
para Maria e a Maria para Manel em nada altera o conteúdo.
- Queria que me compreendesses sem eu dizer
nada Manel.
- Não sou telepata.
- Queria que estivesses sempre ao meu
lado Maria.
- Sempre, as 24 horas? Mesmo na casa de banho?
- Quem me ama conhece-me, Manel!
- Amar não aumenta o conhecimento, podemos amar
e não conhecer.
- Queria que me desses sempre atenção, Maria.
- 24 horas por dia. Não te ias aborrecer?
- Queria que tu me desses carinho
constantemente.
- 24 horas a acariciar-te? Deve magoar!
- Queria que nunca discutíssemos.
- Podemos meditar no Tibete para sempre!
- Queria que ela fizesse sexo comigo de manhã,
a tarde e a noite com um desejo de filme porno.
- Sem comentários.
- Queria que todos me amassem como eu sou.
- Todos a suspirar por ti, mesmo nos teus dias piores?
-Queria que as pessoas me entendessem.
- Que tal escrever um manual com muitas atualizações?
-Queria não ser rejeitado.
- É impossível resistir ao teu charme?
“Queria tudo para
mim...“
Não existe psicólogo
ou terapia que consiga apagar estes infernos criados apenas por nós.
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