sábado, 28 de março de 2015

A vergonha e o medo nas relações



Maria chora em voz baixa.

- Já não me amas Manel. Mal me vês!
- O que queres dizer com isso? Eu farto-me de trabalhar todos os dias!
Sem entender nada da resposta dele. Ela responde:
- Irias trabalhar de qualquer forma, não?
- Nunca nada chega para ti, exiges demais!
“Eu, Manel devia era dizer à Maria porque a amo, porque estou com ela, porque ela é importante para mim! Mas eu tenho tanta dificuldade em dizer isso, nem eu sei bem porque gosto dela. O melhor é ficar calado isto já não leva a nada. “

Por detrás destes pensamentos Manel sente um profundo sentimento de vergonha, porque inconscientemente acha que falhou. Suspira de impotência sem saber o que fazer, muitas coisas passam pela sua cabeça, claro que ele ia trabalhar todos os dias mesmo que a relação terminasse mas não era mesma coisa. Quando o Manel se sente fracassado isola-se e cala-se,  não quer falar, nem pensar, por vergonha. Isso gera na Maria ansiedade e nervosismo pois o Manel não fala, não comunica e afasta-se dela. Ela sente-se isolada o que aumenta o seu medo de ficar sozinha. Ela então tenta falar com o Manel. Este, irritado com a insistência, eventualmente, será rude, talvez os dois se ofendam mutuamente iniciando um ciclo vicioso de ressentimentos que alimentam  a vergonha e o medo um do outro.
Como quebrar o ciclo?
Sempre que Manel vê a Maria ansiosa e nervosa, em vez de se sentir envergonhado dá-lhe um abraço e neste caso podia dizer-lhe:

- É verdade Maria. Eu ia para o trabalho todos os dias como habitualmente, mas se tu não estivesses comigo o significado não era o mesmo.
- Sabes, tenho muita dificuldade em descobrir e dizer o que valorizo em ti,  porque tu és o motivo pelo qual valorizo tudo o resto. Estar na relação contigo faz com que tenha mais prazer em mexer no carro, arranjar algo, cozinhar, ver um filme. És tu que dás significado à minha vida.

Sempre que a Maria percebe a vergonha do Manel, em vez de se sentir só e ansiosa deve dar-lhe espaço para ficar sozinho, atividades que o façam sentir útil e mostrar-lhe o quão importante ele é para ela.
Sempre que Manel percebe o medo e ansiedade de Maria pode mostrar-lhe que está ali para ela, com um abraço, um pequeno presente, uma oferta de um chá, um pequeno gesto. Mostrar-lhe que está ligado a ela.



sábado, 21 de março de 2015

Enrolados no Machismo




- Manel, a primeira vez que saíste comigo, pensei que não estavas interessado em mim!
- Lembro-me! O nosso primeiro jantar a dois.
- Quando não te ofereceste para pagar a conta e a dividimos achei que eramos apenas amigos…
- Isso é uma afirmação muito machista!
- Não é nada!
- Sim, machista, estás a afirmar que eu pagar a conta simbolizava o meu interesse por ti?
- Não sejas bruto, eu era mais nova e achava isso romântico…

As atitudes do cavalheirismo escondem sempre o machismo, pois partem do princípio que a mulher é sempre fisicamente, economicamente e, no geral, mais débil ou incapaz. Mesmo sendo o homem mais fraco ou a ganhar menos, este tem de pagar a conta ou carregar as malas. O cavalheirismo nunca poderia ter surgido numa sociedade em que as mulheres não fossem consideradas inferiores.
Algumas mulheres interiorizaram  e romantizaram o cavalheirismo tanto que podemos encontrar pequenas grandes pérolas machistas a sair das suas boquinhas femininas.

“- Ele nem pagou a conta, tivemos que dividir. Se fosse para dividir tinha saído com as minhas amigas!
- Mas tu não gostas dele?
- Não! Eu gosto de homens a sério que me tratem como eu mereço.
- Fico deliciada quando se pede a conta e o empregado a entrega ao homem. É sempre uma indirecta.
- Eu tive mais sorte, foi à discoteca e pagaram-me as bebidas.”


- Maria eu devia tratar-te como trataria o Tó Zé o meu amigo insuflado do ginásio.
- Porquê?
- Assim garantia que te tratava com igualdade de género. Eu não ajudaria o Tó Zé a abrir uma porta nem a carregar as malas a menos que ele estivesse doente ... Tu és independente, inteligente, sabes abrir portas e fazer as malas de modo a puderes carregá-las. Eu, ao não te fazer nenhuma destas coisas, estou a contribuir para não te sentires inferiorizada e insultada.
- Sabes Manel eu tenho uma coisa que Tó Zé do ginásio não tem.
- O quê?
- Uma vagina!
- E !?!?!
- Posso oferecer ou aceitar sexo, algo que tu desejas visceralmente, certo?
- E estás a insinuar que devo relacionar-me contigo de modo diferente do Tó Zé por isso?
- Hahahaha, sim, obviamente!

As relações, sem machismo entre os dois sexos, dependem também das mulheres e de como nós, homens, temos de saber que tratar as mulheres com igualdade nunca será tratá-la como se trata o Tó Zé do ginásio.


sábado, 14 de março de 2015

2 + 2 não são 4.




- Maria, ninguém percebe as mulheres!

- Achas?

- É verdade, Maria. Porque vocês hoje querem uma coisa hoje e amanhã querem outra?
- Isso é típico dos homens acharem que as mulheres são uma caixinha de surpresas. Todo esse enigma em redor das mulheres, revela apenas a vossa capacidade limitada para perceber todo o universo das nossas emoções que influenciam o nosso modo de pensar.
- Ninguém percebe o que se passa na vossa cabeça...
- Manel não adianta usares a matemática comigo para me perceberes, pois neste caso dois e dois podem não ser quatro.
- Tinha que ter alguma coisa misteriosa…
- Não há mistério algum, além do que eu digo verbalmente tens de te concentrar também no modo, no momento e no contexto da situação em que estou a falar.
- Essa mistura de conteúdo, ritmo, tempo, atitude, contexto, é uma mistura de linguagens que eu não compreendo facilmente. Se estiver desatento, voltado para o meu umbigo, egocêntrico, não as entendo. Preciso sempre de fazer um grande esforço.
- Olha Manel acho que esta maneira de me expressar vem dos nossos antepassados animais em que a fêmea tinha de fazer frente à força bruta do macho com uma comunicação mais indireta, emocional e sugestiva. Manel, eu muitas vezes digo-te as coisas de modo indireto, sugerido, de modo a induzir-te, para que tenhas a hipótese de agir como se a iniciativa fosse tua.
- Manipuladora!
- Não sou! É para não afetar a tua masculinidade e autoestima. Se agires corretamente podes continuar a ser o dominante do pedaço. Papel que eu não quero. Às vezes precisas de um empurrão!
- Grande lição.
- Ainda não acabei. Por exemplo, quando te digo que só pensas em trabalho, quero transmitir-te a minha insatisfação com a nossa relação. Quero que atues, faças alguma para melhorar a relação e obviamente não é o teu despedimento que vai resolver isso...
- Mas, como e típico nas mulheres, ainda não respondeste à pergunta inicial. Porque hoje querem uma coisa hoje e amanhã querem outra?
- Quando falo com as emoções e coração, 2+2 não são 4. Posso parecer-te volúvel e mentirosa, mas naquele exato instante estou a ser o mais verdadeira possível. Nesses momentos não preciso de dramas e de piadas. É quando preciso de um homem de verdade, da tua presença, da tua disponibilidade emocional para partilhar e sentir o meu mundo de emoções. 


quinta-feira, 5 de março de 2015

O romantismo feminino.


- Manel, adorei o filme, obrigado por me levares.
- Sabia que ias gostar, é um filme romântico.
- Ainda bem que fomos.
- Achei uma seca, Maria.
- Não és nada romântico.
- Estás enganada, eu sou romântico, tu é que não...
- Manel, estiveste a beber às escondidas...
- Quem te coloca uma flor na almofada quando chegas tarde? Quem te convida para jantar de surpresa? Quem te surpreende com um chocolate? Quem manda cartas? Quem te faz declarações inesperadas?
- És tu, querido. E eu gosto muito. És a inveja das minhas amigas!
- Sabes, Maria. Eu sou romântico, eu faço os atos românticos, tu limitaste a recebê-los. Logo Maria, eu sou mais romântico que tu!


Os atos românticos vão principalmente da direção do homem para a mulher. Ocorrem-me vários exemplos:
  • No dia dos namorados, a maioria dos gastos são feitos pelos homens para dar presentes às mulheres;
  • Na maioria das homenagens, os homens dedicam o galardão a uma mulher;
  • Pedidos de casamento em público e cartas de amor são feitas de homens para mulheres;
  • Grandes poesias mundiais em toda a história envolveram odes de amor à mulher amada;
  •  Quando um desportista masculino faz golo, ou pontos, ou vence uma competição, é habitual beijar a aliança, fazer o símbolo do coração, dar um beijo para a câmara, dedicar a vitória à namorada ou esposa;
  • Uma grande percentagem da produção musical masculina tem como mote o amor do homem pela mulher ou o sofrimento, tristeza, traições sofridas, amores perdidos, amores conquistados, venerações e homenagens à mulher;
  • Os homens pagam jantares, flores, prendas, cinemas, etc. 
Tudo se inicia precocemente com as histórias de princesas. As mulheres fantasiam com um homem que faça tudo para lhes agradar e mostrar que está prostrado aos seus pés. Os homens, com a sua mais profunda admiração, tesão, obsessão pelas mulheres, vão oferecendo os seus atos românticos, na tentativa de receber os seus favores. As mulheres limitam-se a recebê-los...
As mulheres têm muito pouco romantismo, na maioria dos casos limitam-se passivamente a serem romanticamente veneradas e tratadas como deusas. Utilizam o romantismo masculino como uma medida para aferir o quanto o homem está preso e disposto a oferecer para a ter.

- Não é bem assim, Manel! Também gostava de ter atos românticos contigo.
- Dahhhh...Maria...
- Vês porque não faço...tu preferes ações com outro tipo de romantismo…