sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Sem interesse e admiração não há paixão


- Maria, já reparaste, a Ana, tão nova, noiva do António muito mais velho.
- Claro, ele é cheio de papel, ela é uma interesseira!
- E ele quer é uma gaja nova e gira para mostrar! Maria, vamos deixar de ser parvos. Tudo o que fazemos é por interesse, não no sentido pejorativo mas no sentido de nos motivar, de nos movimentar numa direção.


Só nos movimentamos por interesse, e só temos interesse quando admiramos. Só desejamos e nos apaixonamos por admiração e interesse. Ana admira no António toda a segurança que ele lhe proporciona. Já ele admira a sua perfeição e beleza. Interesse e admiração são os portões de entrada para a paixão. Ele pode estar apaixonado por ela, mas por detrás da paixão e, antes de esta existir, estava a admiração e o interesse. Admiração é o sentimento que segura a paixão e o amor quando estes se desgastam pelos inúmeros problemas da vida e pelo tempo. Para estarmos apaixonados por alguém é preciso admiração pelo ser amado. Quando a admiração acaba, acaba a amizade, acaba o respeito, acaba o amor.

Todos se perguntam porque nos apaixonamos? Mas a pergunta certa seria:
Porque admiramos alguém?

Por milhões de motivos; desde os mais inconfessáveis como sexo, desejo, dinheiro e fama até aos mais nobres como a generosidade.
Não há receita para se ser admirado e o que cada pessoa pode admirar em outra não é um dado adquirido. O importante é descobrir no início o motivo por que somos admirados e, de seguida, descobrir como podemos melhorar essa característica, pois isso irá, em princípio, fomentar a admiração e alimentar essa paixão. Manter a admiração é talvez a melhor forma de cultivar o amor e a paixão.


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Porque estão casados há 50 anos?


“- Olha Manel a Ana e António já estão juntos há tantos anos.
- E ainda se aturam um ao outro!
- Não sejas bruto…..”

Quem não conhece um casal com uma relação de 50 anos, um de bengala e o outro curvado a coxear. Eles já passaram por muito juntos, vários acontecimentos ocorreram em seu redor, partilharam emoções, visões do mundo, preocupações e sensações. O mundo mudou em torno deles.
Os seus corpos foram magros, foram gordos, foram jovens e bonitos.
Passaram muito tempo naquela casa que já não existe. Já foram apaixonados, já se amaram, umas vezes loucamente, outras nem tanto, já fizeram muito sexo e já estiveram anos sem fazer sexo. Viram muitas coisas importantes a perder a importância...viram nascer, viram morrer.
Comparando o casal de velhinhos com o casal na adolescência há cinquenta anos, nos seus primeiros encontros na rua e na escola, às escondidas, com o casal que hoje passeia devagar de braço dado, com um a amparar carinhosamente o outro, não há qualquer semelhança. Tudo mudou!
Pensando melhor, enquanto todo se transformava à volta, enquanto os dois mudavam por dentro e por fora, eles continuaram juntos.
Porquê? Umas vezes por uma razão outra vez por outra. Umas vezes por amor, outras por preguiça. Apesar disso entre os dois eles mantinham-se um casal!
Eles estão juntos porque querem! A sua motivação principal é ficarem um com o outro. Então a base da sua longa união é quererem estar junto um do outro.
Gostamos sempre de pompa, de justificações místicas, com considerações tipo coisas do destino, almas gémeas, vidas passadas...
No entanto é simples e não tem nenhuma magia, é puro bom senso. A base de uma longa relação é apenas uma: estão juntos porque querem estar juntos.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Como amantes!

- Sabes com quem estive hoje Manel?
- Não. Quem foi?
- Foi com a Ana. Bebemos um café e colocamos a escrita em dia.
- Ainda está com o António?
- Sim, e parecem bem. A relação vai bem.
- Isso é bom.
- O pior é que passou o tempo todo a lamentar-se.
- Essa Ana tem sempre de arranjar alguma coisa.
- Está stressada porque não consegue ter sexo com o marido. Os filhos não lhes dão espaço nenhum.
- Hum…
- Já não podia ouvi-la, repetiu aquilo tantas vezes...
- Que seca. Davas uma desculpa e saías.
- Já nos conhecemos há tantos anos, não podia fazer isso. Sabes o que me apetecia dizer?
- Diz.
- Isso é tudo treta. Quando tinhas um amante arranjavas sempre tempo e local para fazerem sexo. Agora não arranjas porque não queres!
- Maria. O problema é que cada um está congelado no seu papel de marido, esposa, pai e mãe. A estas personagens é esperado encontrarem-se em casa numa escapadela fugaz ou à noite quando todos dormem mortos de cansaço. Eles precisam é de encarnar o papel de amantes.
- Excelente Manel. Encontrarem-se como amantes no carro, no cinema, ou em qualquer sítio onde a criatividade e a imaginação de amantes os leve sem saberem nada dos outros papéis que representam na sua vida.



quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Relações e liberdade

Num dos primeiros encontros, Maria e Manel solteiros a jantar, num restaurante, Maria atende o telemóvel sorrindo. Manel pensa:
“Paciência! Outro gajo! Ela tem uma vida e eu já cheguei a meio!”
Os dois continuam aproveitando o momento de descoberta e curiosidade.

- Já sabes o que vais escolher?
- Maria, vou comer bifes com cogumelos. Adoro.
- Eu não, odeio cogumelos!

E olham-se com os olhos brilhantes.
Nas primeiras conversas os dois ouvem-se com avidez e curiosidade, estimulam-se admiram-se. Querem conhecer tudo sobre o outro e contar tudo sobre si. Mesmo quando falam de defeitos, e inconveniências, ambos se vêem como se tudo fosse simples e transponível.
Tempos depois a relação evolui, quando chega o mesmo telefonema, e é recebido por Maria com o mesmo sorriso. Manel já acha natural exigir satisfações, pressionar, ficar nervoso, discutir, gritar e até ser violento. Maria não fica atrás reclama, ele ainda não aprendeu que ela não gosta de cogumelos…Manuel frente a amigos humilha-a na brincadeira.

- Ela para acordar é um filme…
No limite chegam ao ponto de não poderem conviver.

Exemplos não faltam. Tudo é relevado nos primeiros encontros, temos paciência, abertura, sorrimos e atiramos todos os potenciais problemas para trás das costas. É ótimo e a relação mantém-se leve. Poderemos voltar a ser como nas primeiras vezes, como estranhos, uma mulher não a minha, um homem não o meu?

As palavras-chaves são meu homem e minha mulher. Com o sentido de posse congelamos o outro. Ele, o outro, deixa de ter liberdade para ser ele, passa a ter de ser como nós o idealizamos, fantasiamos e, quando isso não acontece, exigimos, cobramos e fazemos mais umas quantas coisas feias. No início ele não era dela nem vice-versa tinham LIBERDADE, podiam ser qualquer coisa, odiar ou gostar de cogumelos, acordar com mau feitio, etc. Ao "tomar posse" do nosso parceiro perdemos a capacidade de aceitar a sua diferença, a sua liberdade e todo o seu grande potencial.

Poderemos redescobrir esse olhar? Queria lembrar-me que a minha mulher é uma estranha, uma desconhecida, livre, não a minha mulher. Mas aquela mulher livre sem inconvenientes, nem defeitos, aquela mulher por quem me apaixonei.