- Maria, preciso de desabafar.
- Diz lá Ana.
- É o sexo com o meu namorado!
- Está mau é? Fraquito?
- Não! Está ir por um caminho que me preocupa!
- Força, desabafa.
- Cada vez que fazemos sexo, é sempre muito
pesado, com palavrões, putaria, luxúria mas de alguma forma mais obscura.
- E gostas?
- Gosto e é bom. Mas lembro-me de um antigo
namorado, era tudo mais natural e suave e tenho saudades, Maria.
- E quanto tempo durou com esse namorado? E que
idade tinhas?
- Namorei com ele apenas alguns meses…e, sim,
era muito mais nova.
- O sexo muda com a duração das relações; ou
ficas com pouco e mau, ou vais pelo seu lado negro, visceral e sensual.
Lembra-te de quando eras adolescente…
Fazíamos sexo repleto
de bons sentimentos. Eramos ternos, apaixonados e fazíamos amor quase
assustados, deslumbrados. Era um milagre que dessa mistura de ingenuidade e
romantismo saísse uma relação completa. Frequentemente fazer amor era mais
ansiedade, ternura e conforto do que propriamente prazer. Raramente era
satisfatória.
Porém mudamos com o
tempo. Passamos e desejar prazer puro e duro. Se existe confiança, os suspiros
e delicadezas vão sendo substituídos por outras sensações, as mulheres
descobrem a força masculina e os homens, com auxílio descarado ou subtil da
parceira, descobrem um menu de opções eróticas viscerais.
Assim deixamos de
fazer sexo só com o corpo, passamos a ter sessões de sexo, com teatro,
personagens e palavras, e, se antes, eram escondidos por pudor, ocupam agora o
centro da cena, que pode não ser a cama. Sexo passa a ser, intensamente uma
descoberta das preferências e fantasias sensuais ocultas, do outro e de nos
próprios.
Sexo é mais uma das
faces da personalidade, cada tem a sua. Embora qualquer idade seja boa para
surpreendermos o parceiro, nem sempre é fácil pois podemos bater em barreiras
de ignorância, preconceito ou resistência.
Haverá casos em que
ele avança e ela reage. - “Para com isso, não gosto”. Ou ela pede umas coisas,
que as moças finas não deveriam, de todo, saber que existem, quanto mais
fantasiar a esse propósito e depara com um olhar de reprovação.
Experiências desastradas deste tipo são sempre
frustrantes.
Com mais ou menos
desencontros, com o passar do tempo o romantismo vai descarrilando em luxuria e
saudáveis putarias, que não se esgotam facilmente e podem ser alimentadas por
uma infinidade de recursos internos e externos, especialmente nas relações mais
longas e de maior confiança.
- Olha amiga. Suspiros e ‘’amo-te’’ esgotam-se
muito rápido. E falo por experiência com o Manel. Casais com muita cumplicidade
e interesse mutuo, têm sexo intenso por muito tempo, mas raramente é puro e
singelo…
- Achas?
- Acho Ana. Pode ser que vocês os dois não
combinem no sexo. Ou tu não te entregues por falta de confiança no rapaz…
- Eu gosto e confio nele, e gosto muito de
fazer sexo com ele, Maria.
- Talvez tenhas saudades de estares apaixonada.
Com as hormonas da paixão tudo parece maravilhoso, mesmo os fluidos e ruídos
mais viscerais. O tempo dilui essa sensação. Tens duas opções explorar o lado
mais obscuro do sexo ou correr atrás de outra paixão.
- E depois Maria, quando encontrar outra paixão
vou repetir tudo?
- Não sei, talvez sim, talvez não. Depende de
ti!
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