quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Relações e liberdade

Num dos primeiros encontros, Maria e Manel solteiros a jantar, num restaurante, Maria atende o telemóvel sorrindo. Manel pensa:
“Paciência! Outro gajo! Ela tem uma vida e eu já cheguei a meio!”
Os dois continuam aproveitando o momento de descoberta e curiosidade.

- Já sabes o que vais escolher?
- Maria, vou comer bifes com cogumelos. Adoro.
- Eu não, odeio cogumelos!

E olham-se com os olhos brilhantes.
Nas primeiras conversas os dois ouvem-se com avidez e curiosidade, estimulam-se admiram-se. Querem conhecer tudo sobre o outro e contar tudo sobre si. Mesmo quando falam de defeitos, e inconveniências, ambos se vêem como se tudo fosse simples e transponível.
Tempos depois a relação evolui, quando chega o mesmo telefonema, e é recebido por Maria com o mesmo sorriso. Manel já acha natural exigir satisfações, pressionar, ficar nervoso, discutir, gritar e até ser violento. Maria não fica atrás reclama, ele ainda não aprendeu que ela não gosta de cogumelos…Manuel frente a amigos humilha-a na brincadeira.

- Ela para acordar é um filme…
No limite chegam ao ponto de não poderem conviver.

Exemplos não faltam. Tudo é relevado nos primeiros encontros, temos paciência, abertura, sorrimos e atiramos todos os potenciais problemas para trás das costas. É ótimo e a relação mantém-se leve. Poderemos voltar a ser como nas primeiras vezes, como estranhos, uma mulher não a minha, um homem não o meu?

As palavras-chaves são meu homem e minha mulher. Com o sentido de posse congelamos o outro. Ele, o outro, deixa de ter liberdade para ser ele, passa a ter de ser como nós o idealizamos, fantasiamos e, quando isso não acontece, exigimos, cobramos e fazemos mais umas quantas coisas feias. No início ele não era dela nem vice-versa tinham LIBERDADE, podiam ser qualquer coisa, odiar ou gostar de cogumelos, acordar com mau feitio, etc. Ao "tomar posse" do nosso parceiro perdemos a capacidade de aceitar a sua diferença, a sua liberdade e todo o seu grande potencial.

Poderemos redescobrir esse olhar? Queria lembrar-me que a minha mulher é uma estranha, uma desconhecida, livre, não a minha mulher. Mas aquela mulher livre sem inconvenientes, nem defeitos, aquela mulher por quem me apaixonei. 

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