quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Manel, sexo, cartas, viagra, relações

- Maria, achas que um dia destes tomo Viagra?
- Para quê?
- Para termos uma sessão de sexo sem limites nenhuns.
- Qual é o teu problema já me queixei alguma vez?
- Não.
- Então, não precisas.
- Como sabes se nunca experimentamos?
- Tu satisfazes-me assim e, de certeza, deve fazer mal a alguma coisa.
- Achas? Vou investigar na internet e depois falamos. 


Dias depois Maria surpreendentemente recebe uma carta.

"Querida Maria.

Como prometido fui investigar a utilização do Viagra para fins recreativos.
Numa pesquisa rápida na Internet, encontrei factos, (ou não), maravilhosos sobre esta droga: 

    • Protege as espécies ameaçadas ao diminuir o consumo de iguarias exóticas que supostamente aumentam a virilidade, feitas a partir de animais em extinção, como chifres de rinocerontes e garras de tigre;
    • O panda, tímido, também beneficia, pois em cativeiro aumenta a frequência e a duração das suas relações sexuais; 
    • Faz crescer as árvores; 
    • Melhora alguns problemas cardíacos, etc.
      Fazer sexo com Viagra vai insuflar o meu egocentrismo com a fantasia do garanhão e do sexo interminável, do tipo "sou o maior". Simplesmente aumenta o meu ego, faz com que me idealize como um homem fantástico e infalível. Ora este elevar de expectativas é como dar um tiro no meu pé (ou na pila).
      Quando não há Viagra chega logo aquele mal estar, aquela pressão, aquela ansiedade capaz de gerar pré-impotência, ainda muito antes da acção se iniciar e aí falha mesmo... e lá se vai a masculinidade.
      E tu a minha parceira nem sempre estarás motivada para uma sova de sexo e vais passar a fantasiar com uma rapidinha inesperada em sítios mais inusitados. E o teu desejo vai manter-se? Quando hesitante te interrogares se a minha rigidez é activada pelas tuas curvas e movimentos ou por acção de um químico. A tua auto estima vai resistir a isso? Por outro lado Maria a banalização de grandes performances também te pode criar expectativas fantasiosas e, com isso, aumentar a pressão sobre o meu desempenho masculino e sobre ti própria.
      Estes efeitos psicológicos não estão documentados na bula do medicamento não vá alguém perceber que ele gera dependência psicológica.
      A indústria dos produtos tipo Viagra nunca foi tão próspera, principalmente devido ao seu consumo por homens de todas as faixas etárias, impulsionados por campanhas publicitárias mais ou menos explícitas. Apesar de em Portugal não haver publicidade na TV o politicamente correcto dos média já substituiu a palavra, impotência pela expressão "disfunção eréctil" mais amistosa e menos ofensiva. Assim se retira a efeito cultural negativo da palavra impotência o que vai permitir que pessoas não impotentes consumam Viagra sem sentir essa carga negativa. A utilização da palavra disfunção eréctil não é inocente e permite que se use Viagra sem ser apontado como... impotente.
      Cheguei à conclusão que tinhas razão Viagra. Só quando precisar por doença!

      Beijos Manel"

      - Manel hoje recebi uma carta tua. Adorei, bem melhor que Viagra! Foi como se começasses a fazer sexo antes do sexo...
      - Percebi que o sexo se inicia na cabeça e fora da cama.


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